Novas Inaugurações Simultâneas no "Quarteirão das Artes" do Porto

No passado sábado, 21 de Janeiro de 2012, assistimos a mais uma jornada de Inaugurações Simultâneas na famosa Rua de Miguel Bombarda do Porto. Como sempre acontece nestes dias, o evento contou com bastante animação, muitos visitantes e, claro está, muitas propostas criativas por parte das galerias e dos respectivos artistas. Uma vez mais passámos por lá e seleccionámos aquelas mostras que nos parecem mais interessantes. Aqui vai um breve resumo… 

Cartaz das Inaugurações Simultâneas. Foto: IRMANARTE

Começando por uma das Galerias mais veteranas da cidade, a Galeria 111, deparámo-nos com uma interessante exposição do artista lisboeta, nascido em Moçambique - Pedro Gomes - intitulada "Id". Nesta mostra, a temática derivada de imagens quotidianas do mundo do consumo escolhida pelo artista, ajuda a reflectir em torno à ideia freudiana do Ego e sobretudo da fantasia derivada do exercício da ficção como necessidade humana indispensável. 
Na Galeria AP'ARTE foi possível assistir a uma dupla inauguração. A primeira delas foi a do artista plástico Nuno San-Payo, filho do famoso fotógrafo do mesmo apelido, intitulada: "Incursões Pictóricas"; onde este artista, contrariando a ideia do "big is beautiful", apresentou uma selecção de telas de reduzidas dimensões ("mais apropriado à crise", afirma), povoadas de figuras humanas retratadas "no anonimato e sem espectáculo…" Numa tentativa de realçar os gestos e as atitudes convencionais do indivíduo. A segunda destas exposições deveu-se, por sua vez, à pintora Silva Lima que, com uma exposição intitulada "História D'uma Vida", retratou estados de alma, histórias e recordações pessoais, num conjunto de composições pictóricas formadas por fragmentos de imagens estrategicamente colocados no conjunto, recriando desta forma um ambiente universal e poético. 
"From Florence with Love" do pintor Jules Maidoff foi a proposta apresentada pela Galeria Arthobler para este dia. Nesta mostra, Maidoff, reflectindo orgulhosamente as suas raízes russas e judaicas, recriou um universo irreal pontilhado de referencias directas à tradição humanista europeia, onde cada tela, através dos personagens retratados, narra uma historia diferente. 
Algo diferente à pintura de Maidoff foi, no entanto, a proposta apresentada pela famosa Galeria Fernando Santos. Desta vez, o seu amplo espaço expositivo enche-se de um conjunto de obras recentes do veterano artista conceptual português Gerardo Burmester, intitulada: "2011, Alguns Trabalhos Revisitados". Burmester, percursor do conceptualismo e da performance durante a década de 70 do século XX e membro de grupos artísticos como Puzzle e ex-director do Espaço Lusitano do Porto, propõe-nos uma aproximação às técnicas e materiais utilizados desde sempre nas suas obras, através de uma selecção de trabalhos de marcado minimalismo. 
Completamente distinto é, no entanto, o trabalho apresentado por Daniel Melim na Galeria Nuno Centeno. Nesta mostra, Melim produz um conjunto de obras pictóricas usando uma técnica inovadora e peculiar baseada na representação de objectos sobre uma película transparente ("perecida às bóias da praia", afirma), cujo processo de execução faz lembrar um perspectógrafo renascentista. O resultado são acetinadas telas que recordam o brilho do papel fotográfico, onde as figuras anteriormente pintadas na película transparente são realçadas por um fundo de azul plano previamente pintado na tela. 
Na Galeria Presença, por outro lado, a proposta apresentada foi uma exposição monográfica da jovem artista Mafalda Santos que, vivendo entre o Porto e Nova Iorque, desenvolveu um conjunto de trabalhos intitulado: "On Revolution". Baseando-se no termo revolução e analisando a evolução do seu significado ao longo da história, ao mesmo tempo que faz uma clara referencia ao livro On Revolution (1963), Mafalda Santos desenvolveu nesta exposição um exercício de memória histórica em alusão à importância de documentos históricos como a Declaração Universal dos Direitos do Homem ou a Declaração de Independência dos EUA, cuja importância, entende-se, merece ser ainda mais realçada nos momentos que correm. O resultado desta reflexão é, portanto, um conjunto de trabalhos compostos de elementos geométricos e gradações de cor, que, associadas às palavras, produzem uma experiência visual sinestésica.  
João Queiroz, por sua vez, preparou-nos um interessante clássico para a Galeria Quadrado Azul. Nesta mostra, Queiroz, que além de artista também é filósofo, apresentou-nos uma selecção de trabalhos de pintura paisagista realizados recentemente, onde a sua tradicional mancha pictórica dá lugar a uma pincelada expressiva de cores puras, recordando o universo técnico do Impressionismo. 
Finalmente, na Galeria Serpente, Bruno Côrte foi o responsável de executar a peculiar exposição composta de obras de pintura e desenho sobre tela intitulada: "Herbarium Oficinalis". Nesta mostra, este artista madeirense recorre a descrições técnicas como a do botânico Luis Oliveira Maia, para "legendar" as "estampadas" flores que povoam a suas telas. Ditas descrições, recordam-nos a origem natural destes seres vivos, cuja essência de vida se perde na repetição da sua imagem em papéis e tecidos decorativos. 


Consulte a reportagem fotográfica das inaugurações na nossa página do Facebook.

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